segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Geddel sobre caravana do São Francisco: 'Todo ato público gera dividendo eleitoral'
Geddel convida oposição a repetir a caravana de Lula
Valter Campanato/ABr
O ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) fará um convite aos líderes da oposição. Coisa formal, por escrito.
Deseja levar congressistas do PSDB e do DEM às obras da transposição das águas do Rio São Francisco. “O presidente Lula me deu carta branca”, diz.
Geddel concedeu entrevista ao blog na noite deste domingo (18). Respondeu à crítica de que Lula foi à obra para fazer campanha, não para vistoriá-las.
Disse que a viagem foi “de trabalho”. E enxergou um quê de hipocrisia na gritaria da oposição:
“Todo ato público, administrativo, sempre vai gerar dividendo eleitoral. Vamos rasgar a fantasia da hipocrisia...”
“...Quem está na vida pública e participa de eleições evidentemente deseja que seus atos administrativos caiam no gosto da população”. Vai abaixo a entrevista:
- O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, diz ter feito em 40 minutos o trajeto que Lula fez em três dias. Por que tanto tempo?
Sérgio Guerra, como senador da oposição, deveria percorrer a obra com mais tempo, para fiscalizá-la. O presidente Lula passou um dia verificando as obras de revitalização do rio, um dia visitando o eixo norte da obra e outro dia para o eixo leste. Foi correta a programação de três dias.
- A viagem teve propósitos eleitorais?
Não vejo assim. O presidente foi vistoriar obras. Não se pode imaginar que um presidente da República, sobretudo com a popularidade do presidente Lula, possa passar em qualquer evento sem ser chamado a se manifestar.
- O que houve de técnico na viagem?
Houve reuniões com engenheiros, técnicos e empresários. Foi uma viagem de trabalho.
- Essas reuniões não poderiam ter sido feitas em Brasília?
Não. Na visita às obras, o presidente viu que é razoável a nossa cobrança para que o Ministério da Integração disponha de mais engenheiros. Ele verificou onde é preciso reforçar a estrutura, para que as obras tenham sequência. Vislumbrou, in loco, a necessidade de desapropriações de terras em volta da obra...
- E quanto às manifestações políticas do presidente?
Na medida em que o calendário vai avançando e fica mais próximo da eleição, toda participação do presidente vai gerar essa interpretação de que se trata de algo eleitoral. Mas note que os próprios jornalistas se encarregaram de priorizar a política em detrimento dos aspectos técnicos da obra. Eles fizeram perguntas políticas. Quem estava lá viu. Ninguém perguntou o que ele achou da obra. As perguntas eram: Dilma é candidata? O que o Ciro está fazendo aqui? Ou o presidente faz uma grosseria ou responde. Ele respondeu. No dia seguinte, o administrativo dava lugar ao eleitoral no noticiário. A cobertura da mídia sinalizou para a política.
- Havia palanques ao longo do trajeto. Na primeira cidade, Buritizeiro (MG), Lula disse que, embora não estivesse previsto ‘fazer comício’, ele falaria mesmo assim. Comício é coisa de campanha, não?
A palavra pode ter sido mal colocada. O presidente poderia ter dito que não estava prevista aquela reunião. Mas onde o presidente vai, em torno dele junta-se uma multidão. Há naquelas obras quase 8.500 trabalhadores. Quando o presidente chegava, as pessoas pediam que ele se manifestasse. Sem exagero, diria que o presidente Lula virou um astro pop. O que fazer numa situação como essa? Ele termina tendo que falar. Não tem jeito.
- O que acha dos protestos da oposição?
Acho absolutamente natural. É o papel da oposição. Se a oposição, por estar fora do governo, não tem obras para vistoriar, só resta criticar. É o papel dela. Já vivi os dois papéis. Fui oposição. Agora sou governo.
- O presidente disse que governos anteriores não fizeram obras. Como ex-aliado do governo FHC, concorda com a crítica?
Creio que o presidente Lula não se referia a Fernando Henrique. Ele defende a tese de que a última vez que o governo teve um amplo programa de obras foi na gestão de Ernesto Geisel. Depois disso, por uma série de circunstâncias, não houve um grande programa de realizações na área de infra-estrutura. Nunca vi ele se referir especificamente a Fernando Henrique. Ele fala dos últimos 25 anos.
- Num dos pernoites do presidente e de sua comitiva, havia no canteiro de obras coisas como bufê francês e camas king size. Não houve exagero?
Não. Estamos falando do presidente da República do Brasil. Não poderiam querer que nós o acomodássemos numa rede. Quando Juscelino Kubitscheck foi fazer Brasília, construiu-se no cerrado o Catetinho, com tudo o que havia de mais confortável naquela época. Se você recebe uma visita na sua casa, você a prepara melhor. Se eu o convidar para jantar na minha casa, não vou lhe oferecer um cardápio trivial do dia-a-dia. Será um cardápio especial. É natural isso.
- Quanto custou a viagem?
Não tenho idéia. Era uma comitiva presidencial. O Centro de custo é a Presidência, não o ministério.
- A oposição pretende recorrer ao TSE. Acha que a ação prospera?
Tenho convicção de que não prospera. Do contrário, o presidente e seus ministros teriam de ficar ilhados dentro do Palácio e dos ministérios. Inadmissível.
- A oposição exagera?
Vejo tudo com naturalidade. O raciocínio vale para os dois lados. Quando senadores como Sérgio Guerra e José Agripino criticam o governo, estão adotando uma atitude que, aos olhos deles, terá uma repercussão eleitoral. Tudo na vida pública tem repercussão eleitoral, negativa ou positiva. Nesta semana, vou formalizar, por escrito, um convite a todos os líderes da oposição para que me acompanhem numa viagem ao São Francisco.
- Consultou o presidente?
Comuniquei a ele, que me deu carta branca para fazer. Chegando a Brasília, na terça-feira, formalizarei o convite, por escrito, aos meus amigos Sérgio Guerra, José Agripino e a todos os líderes da oposição na Câmara e no Senado. Eu os convidarei a fazer o mesmo roteiro que o presidente fez. Três dias. Se aceitarem, pedirei à presidência da República que disponibilize os meios. Não há o que esconder.
- A presença da candidata Dilma na viagem, resultou em benefício eleitoral?
Todo ato público, administrativo, sempre vai gerar dividendo eleitoral. Vamos rasgar a fantasia da hipocrisia. Quem está na vida pública e participa de eleições, evidentemente deseja que seus atos administrativos caiam no gosto da população. É assim que se vence uma eleição. Do mesmo modo, quando os seus atos administrativos são reprovados pela população, perde-se uma eleição. Portanto, qualquer atitude das pessoas públicas cuja sobrevivência depende do voto tem apelo eleitoral. Vale para quem governa e também para quem faz oposição. Do contrário, teríamos de admitir como aceitável o paradoxo de trancar quem governa nos palácios e impedir a oposição de usar a tribuna do Parlamento.
- A participação da ministra Dilma na viagem foi administrativa ou eleitoral?
Ela é a chefe da Casa Civil, publicamente reconhecida como gestora do PAC. Ali está uma das obras mais significativas do programa. É absolutamente legítimo que lá ela estivesse. Em todo o roteiro, a ministra só se manifestou uma vez, já na despedida da viagem, em Pernambuco.
Escrito por Josias de Souza às 03h11
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