quinta-feira, 5 de maio de 2016

Lama faz 6 meses no Rio Doce e afetados vivem incertezas e prejuízos

Pescadores, comerciantes e donos de pousadas ainda são prejudicados.
Samarco disse que segue fazendo pagamentos mensais de auxílio.


Pescadores, comerciantes, donos de pousadas e moradores de cidades do Espírito Santo dependentes do Rio Doce ainda sofrem os efeitos da lama vazada do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Nesta quinta-feira (5), completa seis meses do desastre e famílias esperam reparações pelos danos sofridos.
A Samarco informou que cerca de 2 mil pessoas têm recebido ajuda da mineradora, mas, somente no Fórum de Colatina, Noroeste do estado, existem mais de 9,5 mil ações de reparações por danos financeiros e morais, segundo o coordenador das varas da cidade, Lindenberg José Nunes. “Há a perspectiva de que entrem mais mil em breve”, disse.
Pescadores
À beira do Rio Doce, em Baixo Guandu, vivem famílias com gerações e gerações de pescadores. Agora, sem informação sobre a situação dos peixes e da água, eles estão se sentindo esquecidos e reclamam que muitos ainda não recebem o auxílio oferecido pela Samarco.
“Ficamos sabendo tudo pela imprensa”, disse o pescador Luciano Freire, de 51 anos, sobre os resultados de análises da situação do rio. “Não sabemos nem mesmo até quando vamos receber o benefício”, completa sobre o valor de um salário mínimo, mais 20% por dependente e uma cesta básica que os profissionais que dependem do Doce estão recebendo.
Os pescadores dizem que chegavam a lucrar R$ 5 mil por mês com o que pegavam no rio.
A Samarco disse que analisou mais de 1,6 mil espécies no mar e no rio e que algumas apresentaram alterações, mas destacou que não é possível afirmar que elas foram provocadas pelos rejeitos.
Água tratada
A desconfiança na água tratada do Rio Doce faz com que os moradores de Colatina busquem alternativas para abastecer as casas. Como não conseguem comprar água mineral, a saída foi buscar o recurso nas bicas e nascentes da cidade.
Walace Campos Pimenta, pedreiro, busca água em bica em Colatina (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)Walace Campos busca água em bica em Colatina
(Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)
O pedreiro Wallace Pimenta, de 23 anos, enche o bagageiro e os bancos traseiros do carro com garrafas cheias de 200 litros a cada 15 dias. “Como é longe, aproveito e pego para minha família e dois amigos”, contou.
Além da alimentação e matar a sede, na casa dele a água da nascente tem outro uso. “Tenho um filho de cinco meses, o Samuel, não confio de dar banho nele com a água tratada do Rio Doce, já deu coceira na minha mulher. Então, usamos essa que pegamos aqui”, explica.
Apesar da desconfiança da população, o prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski, garante que são feitas análises diárias que comprovam a potabilidade da água do Rio Doce tratada.
Entretanto, para garantir que a cidade não fique mais sem abastecimento, como aconteceu logo que a lama chegou, serão buscadas outras alternativas de captação. A mais adiantada delas é a do Rio Santa Maria, cujas obras são realizadas pela Samarco.
Comércio
Comerciantes da Vila de Regência, em Linhares, estão deixando o local porque não conseguem mais trabalhar na região.
Dos 35 comerciantes da localidade, pelo menos 9 já foram embora. "A gente não tem de onde tirar, a gente não tem uma empresa aqui próxima, não tem agricultura, não tem pecuária. A nossa sobrevivência era da pesca e do comércio", disse Messias Caliman, presidente da associação de comerciantes.
Turismo
Desde a chegada da lama, as pousadas de Regência deixaram de lotar os quartos nos fins de semana e os moradores sofrem por não saberem mais de onde tirar seu sustento.
O movimento nas pousadas e restaurantes foi intenso durante as primeiras semanas com a chegada da lama na região. Gente de todo o mundo esteve por lá. Mas depois, no ano novo e carnaval, feriados em que a lotação era máxima, foram esvaziados, embora ainda existam surfistas que não abandonam no mar de Regência - nem mesmo com a lama.
“Antes se tivesse 50 quartos disponíveis eu alugaria todos, porque tinha demanda. Agora mal dá para pagar as despesas e os funcionários”, disse o dono de pousada Adenilson Nogueira, de 63 anos. Ele explica que ainda consegue manter o local porque ele e a esposa recebem aposentadoria.

Prioridade
Segundo o gerente-geral de Estratégia, Gestão e Informação da Samarco, Alexandre Souto, o pagamento dessas ações será negociado nas câmaras de negociações previstas no acordo de R$ 20 bilhões entre governos e Samarco. Ele explica que a prioridade foi atender os mais atingidos.
Por isso, até agora ainda não houve negociação das indenizações por danos morais. “São etapas diferentes e programas diferentes. Há no acordo um programa que tratará das indenizações a quem teve prejuízos e condições afetadas. Vai haver uma câmara de negociações. A prioridade foi ter velocidade com quem depende diretamente do rio”, explicou.
Souto detalha que as câmaras devem contar com a intermediação de algum órgão do poder público para a negociação entre Samarco e moradores.
A Samarco disse que segue fazendo pagamentos mensais de auxílio a pessoas que têm a subsistência ligada diretamente ao Rio Doce.
G1GLOBO
Postado por: Ygor I. Mendes

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