sábado, 21 de dezembro de 2013





COMPREENDENDO O SISTEMA FAMILIAR, A PARTIR DAS RELAÇÕES E


INTERNAÇÕES SISTÊMICAS DE ROSALDA PAIM
 
BACKES, Dirce Stein1


FERREIRA, Muriel Schimites2


FONSECA, Mariana Gonçalves2


PAVANATTO, Paola Aparecida2






Resumo:

 
Baseado na Teoria Sistêmica de Rosalda Paim, o presente estudo objetiva descrever


a vivência das visitas acadêmicas realizadas à “família adotada”, nas quais se


buscou estabelecer o vínculo profissional – família. Trata-se de um estudo de caso,


desenvolvido por meio de visitas periódicas e sistematizadas a uma “família


adotada”, moradora da Nova Santa Marta, no decorrer do segundo semestre de


2010, com o propósito de estabelecer a relação Teoria de Rosalda Paim – família,


entendida como uma unidade complexa. A experiência permite concluir, a
1

 
Doutora em Enfermagem. Professora da Disciplina de Enfermagem: Teorias de


Enfermagem do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
 
2

 
Acadêmicos do Terceiro Semestre do Curso de Enfermagem do Centro Universitário


Franciscano – UNIFRA.
 
Introdução

 
Nos dias de hoje, a família é definida como um grupo de indivíduos vinculados


por uma ligação emotiva profunda, sentimento de pertença ao grupo, isto é, que se


identificam como fazendo parte daquele grupo. E flexível o suficiente para incluir as


diferentes configurações e composições de família que estão presentes na


sociedade atual (WRIGHT, WATSON, BELL, 1990).


A partir de uma visão mais ampliada, pode-se compreender a família como


uma instituição, sendo esta um modo de organização social, criada pelo homem


para gerar estabilidade e segurança em suas interações com a sociedade (RAMOS,


NASCIMENTO, 2008).


Apesar de ser um todo, a família deve ser estudada de maneira singular, ou


seja, separadamente para que assim possamos visualizar as necessidades e a


participação deles dentro da família. E a consciência de que cada um tem suas


particularidades e influencia da vivencia dos demais, deste modo a interação mutua


se torna necessária para um bom convívio. Logo, a família é uma unidade de um


sistema complexo. Nessa unidade, portanto, cada membro representa um pilar


indispensável para formar o todo. Assim na ausência de um destes pilares a


estrutura da família acaba se desorganizando.


Um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação


mútua. Esta definição pode ser aplicada para o indivíduo, para a família ou mesmo


para a sociedade. Cada sistema pode se constituir de sub-sistemas e estar inserido


em outros sistemas maiores (GALERA,LUIZ, 2002).


A abordagem sistêmica em cuidados de enfermagem, inspirados na teoria de


Rosalda Paim, reconhece que a relação entre a dinâmica familiar e as questões


sociais são complexa. Para tanto, é impossível distinguir claramente os efeitos


diretos de cada situação visto que a família enquanto sistema auto-organizador,


dinamiza o seu dia a dia a partir de suas necessidades especificas e das condições


que são expostas.


A partir dessa compreensão sistêmica, a família faz parte de uma rede de


relações e interações, compreendidas pela escola, unidade de saúde, igreja,


trabalho, amigos, visinhos,e outros, sendo que nessa rede também o enfermeiro


ocupa um papel importante e fundamental no processo de educação e promoção da


saúde, visto que para Paim o enfermeiro é o mediador de novas formas de


organização familiar e social.


Com base no que foi dito anteriormente, o presente estudo tem por objetivo


descrever a vivencia das visitas acadêmicas realizadas à família adotada, tendo


como referencial a teoria de Rosalda Paim.
METODOLOGIA

 
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, mais especificamente de um estudo de


caso, desenvolvido em várias e diferentes etapas sistematizadas (Histórico e


diagnostico da realidade; levantamento das necessidades de saúde, Planejamento


coletivo das ações de cuidado; Implementação; avaliação coletiva e socialização das


vivencias; Estratégias de continuidade) que compreendem a interação com o ensino,


a pesquisa e a extensão universitária. O estudo de caso é um dos vários modos de
investigação qualitativa que consiste na observação detalhada de um contexto ou


indivíduo e/ou de um acontecimento específico (CHIZZOTTI, 2006). O estudo de




caso pode ser definido como


Uma forma de se fazer pesquisa social empírica ao investigar-se um


fenômeno emergente dentro de seu contexto de vida-real, onde as


fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas


e na situação em que múltiplas fontes de evidências são usadas (YIN,


1990, p. 15).


Os estudos de caso, além de utilizarem uma variedade de métodos


qualitativos, podem também utilizar várias técnicas de coleta de dados, “incluindo


entrevistas, análise de documentos e observação não-participante de reuniões”,


dentre outras (POPE, 2009, p. 127).


O estudo foi realizado na comunidade Santa Martha, localizada na Macro


região Oeste de Santa Maria, a qual possui uma população de aproximadamente


26.000 habitantes que vivem, na suma maioria, em condições sociais vulneráveis.


O trabalho, cujo objetivo principal foi estabelecer primeiramente o vinculo para


que assim pudéssemos associar a vida da família com a teoria de Paim, foi realizado


em etapas sistematizadas, entre os meses de agosto e novembro de 2010,


distribuídas da seguinte forma: Inicialmente, foi realizada uma visita de observação à


comunidade, e assim conhecemos “nossa família”, isto é, as condições de moradia,


o histórico da família, condições de trabalho, e outros.


Nas próximas visitas, foram enfatizadas as etapas mencionadas acima tendo


em vista a formação do vinculo com a família e desta forma intervir no processo de


organização da mesma,principalmente nas questões relacionadas a


higiene,alimentação, motivação, informação.


Ao todo foram realizadas dez visitas a família, em dias e horários previamente


estabelecidos. Nas visitas propriamente ditas, foram realizadas rodas de conversa,


cuidou-se da higiene das crianças, estimulou-se e avaliou-se o processo de


escolaridade das crianças, incentivou-se o retorno a escola da dona de casa para


que assim pudesse arranjar um emprego para dividir as despesas da casa. Alem


disso, realizou-se orientações quanto a saúde, a higiene e organização da casa,


alimentação, relações familiares,planejamento familiar acesso direitos e deveres, e


outras informações.
Como ocorreram as visitas?

 
Primeiramente, chegamos ao posto de saúde do auto da boa vista, onde


fomos bem recepcionados pela enfermeira e pelo agente comunitário. Logo após


fomos encaminhados para conhecermos a família a qual iríamos “adotar’’. Chegando


lá nos deparamos com a situação complicada em que a família residia (cômodos


pequenos e apertados, falta de higiene, e grande numero de pessoas morando e


dormindo no mesmo cômodo).


Neste dia, a família estava quase completa, porem faltava um dos filhos que


estava na rua brincando. Ao chegar fomos bem recepcionados, tivemos uma boa


conversa a fim de estabelecer vinculo e passar segurança para a família. Pois


iríamos realizar mais visitas com intuito de melhorar a forma de viver daquela


família.
Conhecendo o histórico da família

 
CH trinta e quatro anos, morador da região macro oeste de Santa Maria, alto


da boa vista, servente de obras, casado com SI trinta e um anos, do lar, os mesmos


são pais de cinco crianças: SA doze anos, CH sete anos, L dois anos, e gêmeos de


sete meses. Os pais são analfabetos, sendo que o filho CH, não freqüenta a escola


por falta de documentação, a filha SA vai à escola quando quer, o filho L acabou


perdendo um pouco da atenção dos pais devido o nascimento dos gêmeos, já os


gêmeos por falta de conhecimento da mãe, mesmo com as instruções oferecidas


pelos acadêmicos de enfermagem continuam com más condições de higiene


corporal, e sua alimentação é feita de forma incorreta. CH na maioria das visitas não


estava em casa, passava as tardes com garotos mais velhos o que nos deixou


preocupados, pois em um dos dias de visita encontramo-lo na área verde com


companhias impróprias. Na próxima visita notamos que CH não estava mais na


casa, seu pai preocupado com o filho o dia inteiro na rua, mandou CH morar com


sua avó materna na região Norte da cidade, na Vila Carolina. Infelizmente não


tivemos a oportunidade conhecer e conversar com CH, mas o lado bom é que ele


iria se afastar das más companhias.


A situação da casa é imprópria para o número de pessoas que vivem nela, a


casa possui seis peças sendo que das quais somente quatro são utilizadas: o quarto


do casal onde dormem os gêmeos, a filha mais velha, e o filho de dois anos, e na


sala dorme o segundo filho, as condições de higiene do local são precárias tanto


dentro como fora da casa. O banheiro fica do lado de fora da casa, e as outras duas


peças não são utilizadas. S1 demonstra interesse em estudar porem seu marido não


a permite voltar aos estudos. A mesma fica sozinha com as crianças o dia todo, e a


filha mais velha ajuda a mãe nas tarefas da casa, enquanto o pai trabalha fora.
Avanços, Conquistas e Desafios

 
Logo depois da primeira visita observamos uma mudança no ambiente, a


casa encontrava-se mais limpa e a família mais receptiva, pois o vínculo já estava


formado. A cada visita conquistamos uma maior aproximação com a família e para a


nossa surpresa fomos convidados para sermos padrinhos dos gêmeos e ficamos


muito comovidos com a notícia.


O pai que estava desempregado por um acidente de trabalho, conseguiu um


novo emprego. A filha mais velha começou a freqüentar mais a escola e a se


interessar nos estudos. A mãe mostrou interesse de voltar a estudar ou fazer um


curso profissionalizante quando os gêmeos já estiverem maiores.


Com o passar do tempo CH retorna da casa de sua avó, e dessa vez tivemos a


chance de conhecê-lo e conviver com ele melhor, pois CH agora fica mais tempo em


casa com a família e brincando com seus irmãos, mostrou ser uma criança alegre,


bem receptiva, educada, e apesar de não estar na escola demonstra esperteza e


raciocínio quando responde algo que foi questionado.


O que nos motiva mais foi saber que a família já nos considera verdadeiros


amigos, pois a nós foram feitas confidencias, e algumas nos chocaram. Com isso,


hoje nos sentimos tão à vontade, que parece que estamos em casa, temos total


liberdade para realizarmos nossas atividades com a nossa família.
Considerações finais

 
Considerando as necessidades gerais da família, pode-se notar uma melhora


significativa em cada membro que constitui este sistema. Contudo, percebe-se ainda


que o processo de implantação deve ser de maneira gradativa e continua, pois não


houve uma completa aceitação por todos os membros da família. Ou seja, para que


ocorra uma mudança significativa é preciso que haja integração do sistema homem


com seus sub-sistemas, abrangendo a dimensão bio-psico-sócio-espiritual,


integração dos sistemas de saúde, integração do sistema com o eco-sistema e


integração do sistema com o meta-sistema saúde e social, nunca se esquecendo da


importância da integração indivíduo, família e comunidade.


Com base na experiência vivenciada, pode se argumentar, que cada família


possui a sua própria organização sistêmica. Logo, cada família possui os meios


necessários para a sobrevivência de forma singular. Assim, as nossas ações


contribuíram não para mudar o sistema familiar, mas para instigá-lo e provocá-lo


para que este busque os seus próprios meios/estratégias de re-organização. Para


tanto, é importante a continuidade da proposta de trabalho.
REFERÊNCIAS

 
CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis:




Vozes, 2006.

YIN, R. K. Case study research: design and methods. EUA: Sage Publications,




1990.

POPE, C. Pesquisa qualitativa na atenção à saúde. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,




2009.

GALERA, LUIZ. Principais conceitos da abordagem sistemica em cuidados de


enfermagem ao individuo e sua família. Rev. Esc. Enferm. USP. Vol. 36 no.2 São


Paulo June 2002.

Nenhum comentário: